Muitos já sabem que sofri sério acidente com minha moto. Mas não dos detalhes. O mais relevante conto agora: o motorista que me catapultou para duas cirurgias e longa e dolorosíssima convalescença fugiu sem prestar socorro.
Fugiu SEM prestar socorro.
Bonito, isso. E típico da mentalidade 'gerson' da maioria dos brasileiros.
A esse respeito, com a permissão do meu querido upside down amigo Fabricio Chicca, transcrevo texto recém facebookiado por ele:
"A maior vergonha de todas. Ai que vergonha....
Esse mês completa 5 anos que estou fora do Brasil. Gramaticalmente estou no limbo. Meu inglês não é bom, nunca foi agora esta melhor, e meu português, por total falta de prática, nunca foi bom agora está pior. A minha capacidade cognitiva associada a linguagem vai mandando a minha capacidade de me comunicar para as cucuias, aposto que anos atrás eu seria capaz de escrever essa última sentença com mais humor e menos pudor. Tudo isso para contar que hoje de agora de manhã, 6:15 para ser preciso, assisto na televisão imagens do Brasil. Meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro. Ouvi da cozinha, a palavra Brazil, e desatento quanto ao tema, já que copa do mundo tem sido tratada quase diariamente na mídia local por conta de atrasos, a pior copa do todos os tempos, protestos, e coisas mais, não prestei muita atenção. Quando, comecei a ouvir palavras que não entendia, pensei: “Que bosta, que frustração, 5 anos e ainda tem palavras que não entendo”. Me perguntei: “Porra, como pode Brasil e medieval estarem na mesma sentença”. Continuei: “Que porra é essa de lynching?”
Pronto, atenção capturada, larguei a espremeção (palavra que não existe, tratado perdoada aqui por conta do meu limbo gramatical) laranjal, para ver o que estava acontecendo.
Sentei-me. As palavras medieval e Brasil foram repetidas, meu inglês enfim não é tão ruim, e lynching quer dizer linchamento. Imagens de uma mulher sendo espancada, linchada, em algum lugar do Brasil sendo transmitida para a televisão Neozelandesa as 6 da manhã. Atônito, estupefato, minutos se passando e a mulher apanhando, finalmente o comentário final: ela morreu.
Nada justifica aquilo, ainda mais depois de ler que a mulher na verdade, segundo a polícia, não tinha nada a ver com os crimes de magia negra dos quais estava sendo espancada.
Todas as vezes que falo mal do Brasil sou repreendido: Não cuspa no prato que comeu você tem que amar o país mesmo assim. Continuam repetindo: tem coisas boas aqui, etc. Claro que tem coisas boas, mas tem muito mais coisas podres. Eu não amo o Brasil, eu sequer gosto do Brasil...
Se moro fora do país, por opção ou necessidade, saibam que me envergonho a cada dia mais de ser Brasileiro. Odeio ser associado a esse país, odeio quando todos os meus conhecidos brasileiros culpam o atual partido do governo como culpado dos problemas do país se eximindo de qualquer culpa. Odeio a inércia ou o protesto burro e violento. Odeio a violência generalizada, latina e machista, que continua sendo disseminada nas escolas, nas ruas e nas arenas. Odeio quando lutadores viram astros (você pode se machucar praticando esportes, mas não pode praticar esporte cujo objetivo é machucar alguém, incluí box). Odeio as festas da embaixada com mulheres de biquíni, fantasias e samba. Odeio o patriotismo estúpido, ilógico, o beijo na bandeira, o amor pela cidade maravilhosa que é mais violenta do que Bagdá. Odeio o jeitinho brasileiro, odeio ter que explicar como um juiz de futebol teve a cabeça arrancada.
Odeio ter que explicar a frase: “Ah essa lei não vai pegar.” Odeio ter que responder que não sei sambar, mas gosto de samba enredo. Odeio quando se fala que o Brasil é o melhor país do mundo e nunca foi para outro lugar. Odeio ainda mais quem fala que o Brasil é o melhor país do mundo e foi a outros lugares. Odeio os expatriados difundindo coisas que nunca fizeram na vida quando estavam no Brasil. Odeio os guetos brasileiros no exterior. Odeio quem pede aplaude quando um bandido é morto na rua por um policial. Odeio quando amarram um bandido no poste. Odeio quando alguém, despreparado, não educado, desconhecedor da lei resolve, em alguns segundos julgar e dar a sentença a alguém: Bala, linchamento ou poste. A justiça no Brasil, com essa maldita classe de doutores advogados, juízes, procuradores e todos os demais é uma merda. Mas justiça pelas próprias mãos é a ausência de Estado, o caos, o fim. A ausência de Estado, é a ausência da sociedade organizada, sem Estado e sociedade organizada, sem lei, sem ordem, sem progresso, o país não existe. O Brasil, que perca a copa, que tem leis que pegam e outras que não pegam, que não tem Estado organizado, não existe. Lembrem-se portanto, quando saírem do Brasil, ou durante a copa do mundo, quando vocês se enrolarem na bandeira (que além de tudo é feia para caralho), que vocês estão beijando o símbolo de um grupo grande de pessoas que aceitam linchamento de inocentes calados. Eu desisto."
Fugiu SEM prestar socorro.
Bonito, isso. E típico da mentalidade 'gerson' da maioria dos brasileiros.
A esse respeito, com a permissão do meu querido upside down amigo Fabricio Chicca, transcrevo texto recém facebookiado por ele:
"A maior vergonha de todas. Ai que vergonha....
Esse mês completa 5 anos que estou fora do Brasil. Gramaticalmente estou no limbo. Meu inglês não é bom, nunca foi agora esta melhor, e meu português, por total falta de prática, nunca foi bom agora está pior. A minha capacidade cognitiva associada a linguagem vai mandando a minha capacidade de me comunicar para as cucuias, aposto que anos atrás eu seria capaz de escrever essa última sentença com mais humor e menos pudor. Tudo isso para contar que hoje de agora de manhã, 6:15 para ser preciso, assisto na televisão imagens do Brasil. Meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro. Ouvi da cozinha, a palavra Brazil, e desatento quanto ao tema, já que copa do mundo tem sido tratada quase diariamente na mídia local por conta de atrasos, a pior copa do todos os tempos, protestos, e coisas mais, não prestei muita atenção. Quando, comecei a ouvir palavras que não entendia, pensei: “Que bosta, que frustração, 5 anos e ainda tem palavras que não entendo”. Me perguntei: “Porra, como pode Brasil e medieval estarem na mesma sentença”. Continuei: “Que porra é essa de lynching?”
Pronto, atenção capturada, larguei a espremeção (palavra que não existe, tratado perdoada aqui por conta do meu limbo gramatical) laranjal, para ver o que estava acontecendo.
Sentei-me. As palavras medieval e Brasil foram repetidas, meu inglês enfim não é tão ruim, e lynching quer dizer linchamento. Imagens de uma mulher sendo espancada, linchada, em algum lugar do Brasil sendo transmitida para a televisão Neozelandesa as 6 da manhã. Atônito, estupefato, minutos se passando e a mulher apanhando, finalmente o comentário final: ela morreu.
Nada justifica aquilo, ainda mais depois de ler que a mulher na verdade, segundo a polícia, não tinha nada a ver com os crimes de magia negra dos quais estava sendo espancada.
Todas as vezes que falo mal do Brasil sou repreendido: Não cuspa no prato que comeu você tem que amar o país mesmo assim. Continuam repetindo: tem coisas boas aqui, etc. Claro que tem coisas boas, mas tem muito mais coisas podres. Eu não amo o Brasil, eu sequer gosto do Brasil...
Se moro fora do país, por opção ou necessidade, saibam que me envergonho a cada dia mais de ser Brasileiro. Odeio ser associado a esse país, odeio quando todos os meus conhecidos brasileiros culpam o atual partido do governo como culpado dos problemas do país se eximindo de qualquer culpa. Odeio a inércia ou o protesto burro e violento. Odeio a violência generalizada, latina e machista, que continua sendo disseminada nas escolas, nas ruas e nas arenas. Odeio quando lutadores viram astros (você pode se machucar praticando esportes, mas não pode praticar esporte cujo objetivo é machucar alguém, incluí box). Odeio as festas da embaixada com mulheres de biquíni, fantasias e samba. Odeio o patriotismo estúpido, ilógico, o beijo na bandeira, o amor pela cidade maravilhosa que é mais violenta do que Bagdá. Odeio o jeitinho brasileiro, odeio ter que explicar como um juiz de futebol teve a cabeça arrancada.
Odeio ter que explicar a frase: “Ah essa lei não vai pegar.” Odeio ter que responder que não sei sambar, mas gosto de samba enredo. Odeio quando se fala que o Brasil é o melhor país do mundo e nunca foi para outro lugar. Odeio ainda mais quem fala que o Brasil é o melhor país do mundo e foi a outros lugares. Odeio os expatriados difundindo coisas que nunca fizeram na vida quando estavam no Brasil. Odeio os guetos brasileiros no exterior. Odeio quem pede aplaude quando um bandido é morto na rua por um policial. Odeio quando amarram um bandido no poste. Odeio quando alguém, despreparado, não educado, desconhecedor da lei resolve, em alguns segundos julgar e dar a sentença a alguém: Bala, linchamento ou poste. A justiça no Brasil, com essa maldita classe de doutores advogados, juízes, procuradores e todos os demais é uma merda. Mas justiça pelas próprias mãos é a ausência de Estado, o caos, o fim. A ausência de Estado, é a ausência da sociedade organizada, sem Estado e sociedade organizada, sem lei, sem ordem, sem progresso, o país não existe. O Brasil, que perca a copa, que tem leis que pegam e outras que não pegam, que não tem Estado organizado, não existe. Lembrem-se portanto, quando saírem do Brasil, ou durante a copa do mundo, quando vocês se enrolarem na bandeira (que além de tudo é feia para caralho), que vocês estão beijando o símbolo de um grupo grande de pessoas que aceitam linchamento de inocentes calados. Eu desisto."
Nessa hora não aparece nenhum comentário. Quem cala consente? Eu não. Concordo plenamente com cada letra, mesmo não tendo botado os pés para fora daqui. Como fui covarde e não saí desse barco naufragado.
ResponderExcluirPrecisa-se dizer alguma coisa? A esperança é de que no futuro as pessoas cansem disso tudo e aprendam a se organizarem civilmente e construam nesse país uma nova sociedade, legítma, coisa que nunca houve nesse país. Ainda não superamos a fase do Brasil colonial. Talvez a rebeldia do povão, da senzala, seja o início de algo melhor mas que ainda está muito distante.
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