Em frente à minha garagem, tão vermelho quanto meu velho BMW, estaciona
um sedan praticamente do mesmo porte fabricado pela concorrência, com
exatamente a mesma capacidade cúbica, duas marchas, uma turbina e uma embreagem
a mais, e um pedal a menos no cockpit.
Uma embreagem a mais? O Audi A3 com o qual eu andaria mais de 700 km nos
próximos dois dias conta com uma caixa de câmbio DSG munida de duas embreagens,
uma lidando com as marchas pares e a ré e a outra com as marchas ímpares. Um
brinquedo eficiente e interessante, como veremos a seguir.
Carros alemães, desde muito tempo, usam "um Irineu" como
medida ergométrica unitária padrão. Em todos, sem exceção, me adapto rápida e
facilmente. Com o A3 não aconteceria de outro modo.
Os comandos, todos, são intuitivos e estão onde deveriam estar. Não
precisei ser briefado e nem ler o manual antes de sair com o carro. De cara
percebe-se o acerto no downsizing adotado pela Audi. Um pequeno motor de quatro
cilindros equipado com uma pequena turbina, que lhe acrescenta, estimo, uns 40
hp e uns 7 kgf/m (tomando como referência o B42M18 de 140 hp e quase 18 kgf/m
que equipa o meu E36. Donos de BMW os classificam por siglas, quase sempre).
Mas o que é notável mesmo no carro? Era o que veríamos a seguir:
Embreagens são componentes instalados entre o câmbio e o motor de um
carro e são de difícil manutenção ou troca, já que ou o motor ou o câmbio tem
que ser retirado para que se lhes acessem seus componentes. Qual não será o
trabalho necessário para trocar dois conjuntos de embreagem, então? E não somos
nós que comandamos o funcionamento delas porque nem tem o pedal da esquerda no
carro (claro). Uma delas está sempre acoplada, mantendo o próximo par de
engrenagens à postos. Tem ainda o sistema que emula o creeping, que é o avanço
lento do carro estando
drive (ou 1ª ou 2ª) engatada, à custa de um leve deslizamento do disco da
respectiva embreagem. Como se isso não bastasse, trocas de marcha suaves feitas
em condução tranquila e civilizada são sempre acompanhadas de leves patinadas,
ou, do acoplamento lento dos discos aos platôs, para garantir um ride suave e
sem trancos.
Interessante tentar imaginar a quantidade de passos nos algoritmos dos
programas de gerenciamento do ótimo câmbio do carro.
O número de marchas me parece exagerado porque a curva de torque do
motor é plana e é abundante desde pouco antes da agulha do tacômetro atingir as
2.000 rpm. Mais um caso em que o marketing deve ter atacado a engenharia...
Alternei o programa de gerenciamento do câmbio (tem botão exclusivo para
isso no volante. Muito chique) diversas vezes até concluir que os dois extremos
são os mais legais. O modo efficiency, que faz com que as trocas de marcha
aconteçam a giros abaixo de 3.000 rpm é o mais tranquilo e também o que
propicia mais economia de combustível até mesmo por simular o recurso da roda
livre dos DKW a dois tempos da década de 60 do século passado. Em algumas
situações o sistema de gerenciamento acopla as duas embreagens deixando o carro
"na banguela", situação em que se nota os ótimos trabalhos dos
departamentos de aerodinâmica, de
calibragem das suspensões e do fornecedor dos pneus porque o carro demora muito
a perder o embalo equanto aparece a frase "ponto morto" no monitor do
computador de bordo e a agulha do contagiros aponta para menos de 1.000
rpm. E o modo manual, com acionamento
por borboletas atrás do volante (ou alavanca no console, mas ninguém vai usar
isso, acho eu) é muito melhor do que um Logitech G27 gamer. O sistema de
gerenciamento providencia inclusive as aceleradas intermitentes nas trocas de
marcha descendentes.
O resto acompanha o bom nível do power train. Se o carro não for
provocado ao extremo é muito difícil dizer se é FWD, RWD ou AWD, de tão bem
acertado e preciso que é.
Se o tanque de combustível fosse instalado entre as pernas do motorista,
o confortável sedan poderia muito bem ser confundido com um kart.
N. do A.: Considerações sobre facilidade de pareamento do telefone esperto com a central multimidia, tamanho do porta malas, tipo da costura dos bancos de couro, espessura do carpete, imponência, presença, design, faróis de led, xenônio, laser ou carbureto tem aos montes em outras avaliações feitas por outras pessoas e recomendo fortemente suas leituras.
N. do A. complementar: O carro anda uma barbaridade, tem um pequeno, aceitavel mas sempre presente lag entre o ato de pisar no acelerador e o ato da turbina começar a soprar com pressão maior que a atmosférica e é tão econômico quanto um carro moderno de 1.000 cc, nas condições e nos lugares em que sempre os dirijo.
N. do A. complementar: O carro anda uma barbaridade, tem um pequeno, aceitavel mas sempre presente lag entre o ato de pisar no acelerador e o ato da turbina começar a soprar com pressão maior que a atmosférica e é tão econômico quanto um carro moderno de 1.000 cc, nas condições e nos lugares em que sempre os dirijo.
A segunda classe, digo, os ocupantes do banco traseiro contam com tomada
de 12 V, saídas individuais de ar condicionado e espaço para esquecer
jornais e revistas.
O carro, claro, é bem acabado. Mas custa mais de R$ 140.000,00.
No meio, o computador de bordo. Se só mostrasse o consumo
intantâneo já tava de bom tamanho. O termômetro e o
instrumento que marca a quantidade de combustível no tanque
usam barras de led mas são precisos.
Tem paddle shift atrás do volante, o que
torna quase inútil a alavanca do ótimo
câmbio DSG no console.
O sistema de ar condicionado é fantástico. Não sei dizer se
rouba muita potência do motor graças ao clima sempre quente.
Um teto solar tendo ao fundo uma paisagem bucólica.
Muito útil a rede que levanta automaticamente ao se comandar
a abertura do teto solar. Não entra vento nem mosquito dentro
do carro.
Porta-malas suficiente.
A caixa do filtro de ar (à direita na foto) é quase tão grande
quanto o cabeçote do excelente 1.8 TFSI.
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