Podia ter ido pra Interlagos ver 500 milhas de moto. Podia ter dormido até mais tarde. Podia simplesmente não ter feito nada já que a previsão do tempo não era animadora.
Mas fui até a praça Charles Miller apoiar a manifestação pela paz do agora sem-moto (e sem-scooter, que tá tudo comigo) Tite.
Não podia ter feito nada melhor, que ele tem razão.
Alá o motivo, explicado pelo próprio Tite:
"Em primeiro lugar queria agradecer a todos pela presença a este encontro que tem por objetivo chamar a atenção das autoridades para o elevado número de roubos e assaltos vitimando motociclistas.
Sempre que uma moto é roubada a única vítima que perde dinheiro é o cidadão. O Estado não perde dinheiro porque todos os impostos que incidem sobre o veículo na produção e comercialização já foram pagos pelo contribuinte e eles devolvem apenas parte do IPVA, proporcional ao tempo de uso do veículo. O Município também não perde dinheiro porque as taxas de circulação e comércio já foram pagas. O sistema financeiro não perde dinheiro porque a dívida com o banco precisa ser honrada mesmo se a moto for roubada. A fábrica não perde dinheiro porque a moto já estava faturada para o concessionário e até tem lucro, pois vai vender mais uma. A rede de concessionários também não perde dinheiro porque a moto foi paga pelo proprietário ou pelo banco e também terá de repor essa moto roubada. As polícias não perdem dinheiro, porque não há um sistema de remuneração pela eficiência. As seguradoras não perdem dinheiro porque os valores praticados no Brasil já são absurdamente maiores do que em qualquer outro país do mundo. Algumas motos chegam a ter a cotação equivalente a 1/3 do valor do bem, o que projeta a inacreditável estatística de um roubo a cada três motos seguradas. Além disso, as empresas de seguro simplesmente se recusam a aceitar alguns modelos. Ou seja, no Brasil a atividade de seguradora é 100% segura e lucrativa e não representa risco como nos países normais. Sem falar no DPVAT de moto, que é mais caro de todos os veículos e que não é devolvido em caso de roubo. E tem mais: o leilão de motos sinistradas também alimenta o comércio clandestino.
Em suma, de toda cadeia produtiva o único que perde dinheiro com o roubo de moto é o proprietário, o cidadão, o contribuinte. Por isso que não há uma ação específica para combater esse tipo de roubo, porque não afeta o fabricante, nem o Estado, nem os comerciantes, nem os bancos e muito menos as seguradoras.
Se o Estado e município perdessem dinheiro trabalhariam para reduzir os roubos. Se as fábricas perdessem dinheiro criariam uma forma de evitar os roubos. Se as financeiras e seguradoras perdessem dinheiro os roubos reduziriam com certeza. Como o único prejudicado é o cidadão, que não tem voz ativa neste sistema, os roubos de motos nunca serão combatidos.
O Estado vive anunciado que gasta milhões de reais com os acidentes de motos. Que os leitos de hospitais públicos são ocupados por motociclistas acidentados. Mas quando um motociclista é assassinado durante um assalto a família não cobra do Estado os milhões de reais que essa dor causou. Os filhos que crescerão sem pai não deixarão de pagar os impostos que deverão sustentar os hospitais públicos.
A única vítima do roubo de moto é o proprietário. Inclusive quando é assassinado.
Mas tem uma cadeia "produtiva" que é a maior beneficiária deste caos na segurança pública: os comerciantes clandestinos, que vendem peças de motos roubadas. Eles atuam em vários segmentos da atividade ilícita, desde o roubo em si, passando pela receptação e terminando na comercialização. Este comércio a céu aberto alimenta a segunda maior vendedora de peças e motos do Brasil: a robauto!
O que queremos chamar a atenção com o Buzinaço da Paz é não só cobrar mais empenho no combate ao roubo e na fiscalização sistemática, mas também propor mudanças na forma que são promovidos os leilões de motos sinistradas. Fiscalização pesada sobre as lojas que comercializam peças usadas. Aumento da pena para quem adquire peças roubadas (receptação) e a inevitável alteração na maioridade legal para acabar com os assassinos de 14, 15, 16 e 17 anos!
Mais uma vez obrigado pela presença de todos"
No blog do Tite tem a matéria completa.
E aqui (aqui também), fotos maravilhosas feitas por mim que não foram publicadas em lugar nenhum.
O Renzo fez um filme. Tá aqui.
Muito bom o texto!
ResponderExcluirO autor é o Tite Simões.
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