segunda-feira, 13 de junho de 2011

Teste de carro, mas do meu jeito




Alguns dos meus amigos são jornalistas especializados em automobilismo e motociclismo. Isso geralmente é legal. Mas de vez em quando me sobram tarefas, digamos, não agradáveis, como acordar antes das 6 da matina pra levar carro ou moto pra fotografar numa locação diferente e geralmente bem longe da minha casa.

Um desses amigos jornalistas me convidou, lá por 1994 ou 1995, pra fazer um comparativo entre os recém lançados Alfa Romeo 145 Quadrifoglio, Audi A3 e BMW 318i Compact. Nessa época eu tinha um Fiat Tipo 1.6, também relativamente novo no mercado brasileiro e vendendo que nem mate gelado na praia no verão.

A melhor logística possível era deixar todos os carros na minha casa, que era um ponto de convergência do staff (fotografos, jornalistas e motoristas) pra levar os carros até uma cidade perto de Sampa, fazer as fotos e alguma quilometragem pra coletar impressões.

Então me ví com as chaves e documentos de carros legais (à época), uma noite inteira pra desfrutá-los e uma mente doentia em funcionamento (Sim! Eu estudei no colégio Objetivo).

Qual teste eu poderia fazer com os carros de modo que não os pusesse em risco?

Não muito longe, no bairro do Itaim Bibi, quase na frente do antigo endereço do Café Photo (estabelecimento requintado para diversão adulta masculina) tinha um quarteirão que era famoso e requisitado ponto de prostituição.

"Taí o teste", pensei. Ia então aferir a piranhabilidade imponência de quatro carros segundo critérios científicos: ia levá-los pra esse quarteirão mais ou menos à mesma hora, fazendo o mesmo percurso e à mesma velocidade.

Primeiro levei o carro de controle, o Tipo 1.6. Contornei o quarteirão vagarosamente. Nenhuma prestadora de serviço autônoma notou minha presença.

Tipo 1.6, nota zero no quesito piranhabilidade imponência.

Em seguida seu primo, o maravilhoso Alfa 145 Quadrifóglio. Mesmo percurso. Mesmo resultado.
Alfa Romeo 145 Quadrifoglio, nota zero.

Desanimado, troquei pelo BMW 318i Compact. Pensei que ia arrasar. BMW preto na época era garantia de ser notado em qualquer lugar. Uma ou duas garotas olharam pro carro mais demoradamente. Só.

Pra piorar esse test drive, ainda tomei pau de um Honda Prelude na volta pra casa.

BMW 318i Compact, nota 4 (inacreditavelmente).

Por fim, o Audi A3. Temí pela integridade do capô do carro tamanha a volúpia com que as garotas chegavam perto para iniciar a discussão do contrato de prestação de serviço.

Audi A3, nota 10.

He he he...

Contei, óbvio, minha experiência pro jornalista amigo no dia seguinte de manhã. É óbvio que ele nem cogitou de publicar isso. O motivo real até hoje não consigo entender. Daria um bom box de texto, acredito.

E tirei duas conclusões disso: 1. prestadoras desse tipo de serviço não entendem muito da dinâmica de carros (o Alfa Romeo 145 é de longe o mais legal desses quatro), e, 2. eu fico muito mais bonito à bordo de um Audi.

(A foto é uma homenagem ao meu amigo sem noção André Mansano, que sugeriu que eu escrevesse sobre "sexo no capô - será que vale a pena arriscar amassá-lo?")

sábado, 11 de junho de 2011

Pilotagem, mas do meu jeito

Foto roubada em amika.com.br. Click do Stênio Campos. Entre o banco e o volante, eu.



Faz tempo que quero falar sobre pilotagem de competição. Do meu jeito, claro. E competição de kart, que é acessível pra quase qualquer pessoa.

Já me perguntaram diversas vezes por que é que a gente (eu e "os cara") anda tão mais rápido na mesma pista, na mesma hora e com o mesmo kart.

Hora de tentar começar a responder.

Primeiro tem a técnica. Mas isso pra gente (poucos, na verdade) é coisa que não tem mais tanta importância. Mas deve ser dito.

Sem entrar em maiores detalhes, quanto maior for o raio da trajetória curva que a gente estiver descrevendo, mais rápido estaremos andando antes que o kart comece a escorregar.

Na verdade a gente tá escorregando o tempo todo enquanto percorre uma curva. Mas é uma escorregadinha discreta e que não reduz a velocidade de forma que a gente comece a perder tempo.

Tempo é importante. Quanto menos a gente perder, melhor. Depois volto a falar disso.

Então, basicamente é isso. Em trajetória não curva a gente afunda o pé no acelerador. Quando tá chegando perto da trajetória curva a gente breca até que a velocidade seja compatível com o arco a ser percorrido (descrito, em linguagem de geometria). Como a gente quer andar rápido, essa freada tem que ser feita no menor espaço possível.

Depois eu falo sobre como a massa, ou, o peso do conjunto (kart + a gente) se comporta em transição de movimento.

Antes eu quero falar de coisa mais importante, que é o que deveria estar na mente de quem tá pilotando.

Nada. Isso mesmo: nada.

Quem manda na pilotagem são os reflexos. A gente treina os reflexos pra pilotar e se preocupa com outras coisas relacionadas mas não diretamente ao ato de fazer o kart andar rápido. A gente já sabe que tem que frear e como frear. A gente já sabe que tem que virar o volante pra fazer uma curva e quanto virar. A gente tem gravado na mente o que tem que fazer quando o kart escorrega mais de traseira ou mais de frente. Isso tem que ser feito sem pensar. Tem que ser automático. Como piscar os olhos. A gente não comanda isso racionalmente. Apenas faz.

Nisso a gente não pensa. Daí eu ter falado que a gente não pensa em nada quando tá pilotando.

Sobra então grande capacidade de processamento pra "ler" a corrida, ou, avaliar nosso desempenho e o dos caras (e minas - elas aceleram um monte) e pensar no que tem que ser feito com o que a gente já tem, que é o que eu disse há dois parágrafos.

Sabendo e tendo gravado na mente o "como pilotar rápido", a gente dosa a velocidade em função dos outros que estão na pista na mesma hora.

Até agora não disse nada que ajude muito, né? Daqui em diante piora.

Fiz yoga. Não porque quis, mas porque era a atividade menos brutal que obrigatoriamente tive que fazer pra cumprir meus créditos e acabar a faculdade. Ou era isso ou iam me esfolar em quadras de basquete, futebol de salão e outros esportes violentos.

Ninguém acredita (sendo eu quem sou) que uso yoga até hoje, mais de 25 anos depois de ter aprendido algumas técnicas. Mais do que técnicas, minha  instrutora me deu uma outra visão de como usar meu corpo e minha mente. Me deu a chave pro domínio deles, de certo modo. Respiração, por exemplo, é comigo mesmo. Eu sei respirar. Mesmo fumando, não tenho problemas respiratórios. Isso ajuda muito enquanto a gente tá pilotando.

Pilotar é um exercício físico isométrico. A gente faz força sem se mover. Isso consome tanto o físico quanto a mente. Ambos precisam de oxigênio pra funcionar direito e a respiração treinada mantém o fluxo necessário. Só isso já justifica a prática da yoga.

Quem fica ofegante durante a pilotagem ou quem respira pela boca se ferra em pouquíssimo tempo. Falta ar e isso se torna uma preocupação. Essa preocupação tira o foco principal, que é "ler" a corrida. Tem quem fique nervoso também, logo antes de ir pra pista. Eu fico, às vezes. Mas é só respirar prestando atenção nos tempos de inspiração e expiração por alguns instantes que tudo fica em paz. Oito tempos inspirando, oito segurando o ar inspirado e dezesseis soltado-o. Essa é a proporção.

Já disse lá em cima que "nada" deve ocupar a mente da gente durante a pilotagem. Tem treino pra isso na yoga. Pra encher a mente de nada. E enche-se a mente de nada enquanto músculos e articulações fazem posições impensáveis pra quem fica apenas em pé, sentado ou deitado. Pra uma pessoa não iniciada é ótimo treino pra desprender a mente do corpo. Exatamente o que é necessário pra pilotar. Karts não são confortáveis. A posição do banco favorece mais a distribuição do peso no micro monoposto do que o conforto propriamente dito. A aceleração lateral (a força que tenta tirar a gente do banco quando em trajetória curva) é grande e é necessário algum esforço físico pra se manter sentado e na posição certa. Bem parecido com os ássanas da raja yoga, que era a modalidade que eu praticava.

Corrida ou treino é um filme. É um filme que a gente pilota. O kart é uma extensão do corpo da gente. Só que a gente não tá lá, no kart. Pode parecer esquisito mas é isso mesmo. Apesar da puta interação entre mente, corpo, chassis, motor, rodas e pneus, a gente tá mesmo é olhando adiante e se preparando pro próximo trecho da pista. A gente tem que preparar mentalmente as próximas curvas enquanto faz as do momento imediato. Aí que entra o Chi. (Explicando rapidamente, me envolví com isso porque me envolví com gente iteressada nisso que me interessava, se é que me entendem). Para orientais, o Chi é a energia vital. Mas não deve ser entendido como energia da forma que a gente conhece por não ser mensurável. E Chi a gente projeta pra fora da gente. Quando eu piloto e tô realmente empenhado em andar direito, projeto o Chi adiante, pra onde eu quero que o kart passe e do jeito que eu quero que se comporte.

Por enquanto tá bom, só isso. Mas esse texto é mutante e será modificado ao longo do tempo. Nos seus lugares, botava nos favoritos e voltava de vez em quando pra ver se tem alguma atualização.

Como eu disse, esse texto é mutante. Alá um texto do Bob Sharp sobre pilotagem em modo automático e modo manual, absolutamente pertinente e oportuno. Serve muito bem como apoio a esse aí de cima, que monta tosca e impressionisticamente o cenário de pilotagem de kart em competição:



Como eu disse, esse texto é mutante. Alá um texto do Bob Sharp sobre pilotagem em modo automático e modo manual, absolutamente pertinente e oportuno. Serve muito bem como apoio a esse aí de cima, que monta tosca e impressionisticamente o cenário de pilotagem de kart em competição neste link aqui.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Goldszmidt, Ricardo


Essa foto mostra um quadro de moto com uns descascadinhos. Na verdade não são descascadinhos. É o resultado da aspersão de álcool polivinílico já meio desgastado pelo manuseio.

Essa moto é uma Honda CBX 1050 Six em fase de montagem. Será exposta no próximo evento do Pátio do Colégio em Sampa, que é um dos encontros legais de motos antigas e/ou interessantes que tem por essas bandas.

Fiz a foto porque esse fato (o de aspergir uma proteção química na pintura nova do quadro) me chamou muito a atenção. Muito pouca gente usa essa técnica em restauração ou reparo de carros. Denota cuidado extremo (exagerado, até) com o resultado final da restauração.

E quem poderia fazer isso com motos?

Ele mesmo! Ricardo Goldszmidt.


"Tira a mão dessa porra!" 

Não é incomum ouví-lo gritando quando chega algum clueless perto da bancada/ferramentas/gadgets/motos. Mas ele pode. Gente competente sempre pode gritar o quanto quiser. 

He he he...

Algumas restaurações Goldszmidtianas podem ser vistas em www.motosclassicas70.com.br na seção Passo a Passo.





Friends (generic)

Esse post inaugura uma série nova, dedicada aos meus amigos. Tem gente que vai pensar que é jabá e que tô ganhando uma grana pra fazer isso. Mas não é jabá porra nenhuma.

Todo mundo sabe que apesar de gostar de conhecer gentes novas, as descarto com a mesma velocidade com que as conheço, se for o caso. Tem gente que não vale a pena, infelizmente.

Mas tem pessoas nas quais a gente acaba tropeçando e fica se perguntando porque não conheceu antes. Tempo perdido o tempo que não foi aproveitado junto dessas gentes.(vá lá, muito dramático. Fica assim mesmo. Foda-se).

Indo pra parte prática, Julianas, Júlias, Josés, Fernandos, Lucianas (Lucianes e Lucianos também), Ricardos e outros nomes mais comuns sempre serão referidos por seus sobrenomes, à lá Lista de Schindler. A isso me obriga a falta de imaginação de certos pais.

Bagunça, sim.

Sei que tô devendo vários posts. Tem até vários quase prontos na fila pra upload, mas sempre aparece alguma coisa pra fazer antes e... acaba ficando pra depois. Do mesmo jeito que falei pra vocês irem se acostumando com posts quebrados em vários capítulos, falo pra irem também se acostumando a períodos sem postagem nenhuma. Sempre pode sair coisa boa desses períodos de inatividade "blogal".

Como dizia a avó de um amigo meu, a preguiça é a mãe da invenção.