No começo da década de 80, no bairro de Santo Amaro em São Paulo, a Glaspac começou a produzir réplicas do AC Cobra posteriormente modificado por Carrol Shelby usando a mecânica disponível na época: agregado dianteiro dos Opala e eixo traseiro dos Galaxie/Landau, este compatível com o motor V8 e caixa de câmbio da Ford. Não exatamente um primor de ride e handling, mas era o que tinha pro momento.
Alexandre Gustavo morava perto da Glaspac e ia de bicicleta todo dia para ver a montagem dos carros, que eram iguais a este aqui:
Morou mais tarde na Inglaterra e visitou em Goodwood a fábrica dos AC Bristol, que projetou e fabricava os modelos que foram modificados por Carrol Shelby.
Os AC Bristol eram mais mirradinhos:
Alexandre Gustavo morava perto da Glaspac e ia de bicicleta todo dia para ver a montagem dos carros, que eram iguais a este aqui:
Foto Quatro Rodas Digital
Foto Quatro Rodas Digital
Os AC Bristol eram mais mirradinhos:
Foto Scott Nidermaier © 2010
E aprendeu lá tudo que podia sobre a construção desse roadster. Já de volta ao Brasil, Alexandre passou a pesquisar a viabilidade de construir o seu próprio AC Shelby Cobra réplica. Descobriu, óbvio, que a maioria das empresas que fabricam réplicas no Brasil não são exatamente formadas por engenheiros sérios, salvo raras exceções.
Começou comprando uma carroceria de fibra-de-vidro já pronta e se equipando para fabricar toda a mecânica em casa. Isso incluiu a compra da importante mesa zero*, dispositivo vital pra que as medidas do projeto sejam acuradas e resultem num carro guiável.
De posse das medidas do chassis e feito o projeto num computador, tubos de aço carbono foram comprados e ponteados na mesa e posteriormente levados para serem soldados por um especialista usando equipamento TIG.
Alexandre levou (leva, ainda) tudo a sério. Ele mesmo projetou as mangas de eixo e os braços superiores e inferiores dianteiros e traseiros. Ou seja, as suspensões são absolutamente home made.
"Usa agregado dianteiro de Opala?", perguntei, já que essa é uma solução corriqueira no universo dos carros especiais. "Nada de Opala! Não nesta vida. Hahahahahahaha!"
Nada contra o vetusto Chevrolet aclamado como um dos únicos muscle cars brasileiros, claro.
Os conjuntos molas/amortecedores foram calculados para o peso total do projeto, que vem sendo aprimorado a cada rolê, já que não há parâmetro prévio. Mas deve ser uma brincadeira interessante, já que há regulagem independente de cáster/cambagem/convergência/pré-carga das molas e altura para os quatro cantos.
O diferencial usado é o mesmo dos Stock Cars, com semi-eixos bi-articulados. E pra quem gosta de ficha técnica: as rodas dianteiras/traseiras são 18x7,5 e 18x12 respectivamente com pneus 305/45 atrás e 245/45 na frente, os freios são Lucas ventilados no quatro cantos, a caixa de câmbio é Ford, em alumínio (equipa um carro de linha americano), com 5 marchas, a caixa de direção é TRW do tipo rack and pinion (vá lá: pinhão e cremalheira) sem assistência. O motor, um 302 Ford, conta com um Holley bi-jet, escapamento em aço inox e ignição MSD. Receberá duas turbinas em breve. O painel inteiro usa mostradores Cronomac.
*Só pra não deixar no ar, mesa zero é uma mesa (ah vá) cujo tampo é feito de uma grossa chapa de aço retificada e montada no chão de modo que esteja absolutamente paralela a ele. O vetor da força normal (vão procurar no google) forma um ângulo de exatamente 90° com qualquer ponto da superfície da mesa zero.
Puta matéria e fotos.
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