segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Audi A3


Em frente à minha garagem, tão vermelho quanto meu velho BMW, estaciona um sedan praticamente do mesmo porte fabricado pela concorrência, com exatamente a mesma capacidade cúbica, duas marchas, uma turbina e uma embreagem a mais, e um pedal a menos no cockpit.

Uma embreagem a mais? O Audi A3 com o qual eu andaria mais de 700 km nos próximos dois dias conta com uma caixa de câmbio DSG munida de duas embreagens, uma lidando com as marchas pares e a ré e a outra com as marchas ímpares. Um brinquedo eficiente e interessante, como veremos a seguir.

Carros alemães, desde muito tempo, usam "um Irineu" como medida ergométrica unitária padrão. Em todos, sem exceção, me adapto rápida e facilmente. Com o A3 não aconteceria de outro modo.

Os comandos, todos, são intuitivos e estão onde deveriam estar. Não precisei ser briefado e nem ler o manual antes de sair com o carro. De cara percebe-se o acerto no downsizing adotado pela Audi. Um pequeno motor de quatro cilindros equipado com uma pequena turbina, que lhe acrescenta, estimo, uns 40 hp e uns 7 kgf/m (tomando como referência o B42M18 de 140 hp e quase 18 kgf/m que equipa o meu E36. Donos de BMW os classificam por siglas, quase sempre).

Mas o que é notável mesmo no carro? Era o que veríamos a seguir:

Embreagens são componentes instalados entre o câmbio e o motor de um carro e são de difícil manutenção ou troca, já que ou o motor ou o câmbio tem que ser retirado para que se lhes acessem seus componentes. Qual não será o trabalho necessário para trocar dois conjuntos de embreagem, então? E não somos nós que comandamos o funcionamento delas porque nem tem o pedal da esquerda no carro (claro). Uma delas está sempre acoplada, mantendo o próximo par de engrenagens à postos. Tem ainda o sistema que emula o creeping, que é o avanço lento do carro estando drive (ou 1ª ou 2ª) engatada, à custa de um leve deslizamento do disco da respectiva embreagem. Como se isso não bastasse, trocas de marcha suaves feitas em condução tranquila e civilizada são sempre acompanhadas de leves patinadas, ou, do acoplamento lento dos discos aos platôs, para garantir um ride suave e sem trancos.

Interessante tentar imaginar a quantidade de passos nos algoritmos dos programas de gerenciamento do ótimo câmbio do carro.

O número de marchas me parece exagerado porque a curva de torque do motor é plana e é abundante desde pouco antes da agulha do tacômetro atingir as 2.000 rpm. Mais um caso em que o marketing deve ter atacado a engenharia...

Alternei o programa de gerenciamento do câmbio (tem botão exclusivo para isso no volante. Muito chique) diversas vezes até concluir que os dois extremos são os mais legais. O modo efficiency, que faz com que as trocas de marcha aconteçam a giros abaixo de 3.000 rpm é o mais tranquilo e também o que propicia mais economia de combustível até mesmo por simular o recurso da roda livre dos DKW a dois tempos da década de 60 do século passado. Em algumas situações o sistema de gerenciamento acopla as duas embreagens deixando o carro "na banguela", situação em que se nota os ótimos trabalhos dos departamentos  de aerodinâmica, de calibragem das suspensões e do fornecedor dos pneus porque o carro demora muito a perder o embalo equanto aparece a frase "ponto morto" no monitor do computador de bordo e a agulha do contagiros aponta para menos de 1.000 rpm.  E o modo manual, com acionamento por borboletas atrás do volante (ou alavanca no console, mas ninguém vai usar isso, acho eu) é muito melhor do que um Logitech G27 gamer. O sistema de gerenciamento providencia inclusive as aceleradas intermitentes nas trocas de marcha descendentes.

O resto acompanha o bom nível do power train. Se o carro não for provocado ao extremo é muito difícil dizer se é FWD, RWD ou AWD, de tão bem acertado e preciso que é.


Se o tanque de combustível fosse instalado entre as pernas do motorista, o confortável sedan poderia muito bem ser confundido com um kart.

N. do A.: Considerações sobre facilidade de pareamento do telefone esperto com  a central multimidia, tamanho do porta malas, tipo da costura dos bancos de couro, espessura do carpete, imponência, presença, design, faróis de led, xenônio, laser ou carbureto tem aos montes em outras avaliações feitas por outras pessoas e recomendo fortemente suas leituras.

N. do A. complementar: O carro anda uma barbaridade, tem um pequeno, aceitavel mas sempre presente lag entre o ato de pisar no acelerador e o ato da turbina começar a soprar com pressão maior que a atmosférica e é tão econômico quanto um carro moderno de 1.000 cc, nas condições e nos lugares em que sempre os dirijo. 

A segunda classe, digo, os ocupantes do banco traseiro contam com tomada 
de 12 V, saídas individuais de ar condicionado e espaço para esquecer
jornais e revistas.

O carro, claro, é bem acabado. Mas custa mais de R$ 140.000,00.

No meio, o computador de bordo. Se só mostrasse o consumo
intantâneo já tava de bom tamanho. O termômetro e o
instrumento que marca a quantidade de combustível no tanque
usam barras de led mas são precisos.

Tem paddle shift atrás do volante, o que 
torna quase inútil a alavanca do ótimo 
câmbio DSG no console.

O sistema de ar condicionado é fantástico. Não sei dizer se
rouba muita potência do motor graças ao clima sempre quente.

Um teto solar tendo ao fundo uma paisagem bucólica.

Muito útil a rede que levanta automaticamente ao se comandar
a abertura do teto solar. Não entra vento nem mosquito dentro
do carro.

Porta-malas suficiente.

A caixa do filtro de ar (à direita na foto) é quase tão grande
quanto o cabeçote do excelente 1.8 TFSI.