terça-feira, 17 de abril de 2012

Posição de dirigir



Love hurts

Eu dirijo. Faz tempo. Dei aula disso, até, por bastante tempo. As aulas, aliás, começavam com isso: como sentar no carro (não vou falar de moto que não é minha praia, definitivamente, se o assunto é competição).

Existe lógica pra sentar num carro. O objetivo principal é controlá-lo direito, né? Então nem vou me aprofundar no aspecto da segurança, esse conceito xiita que persegue todo mundo hoje e que vende carros e até elege políticos.

Mas a gente quer é guiar direito. Então precisa alcançar os comandos básicos do carro pra poder dar inputs com 100% da extensão de cada um. Assim, deve-se apertar a embreagem até o fim com controle e o mesmo vale pra todo o resto: freio, acelerador, alavanca de câmbio e volante. Especialmente o volante.

A gente tem que conseguir virá-lo alcançando um bom arco (mais de 180° é desejável) com uma mão só, pros dois lados. Não é raro ter que trocar de marcha dentro de uma curva.

E a gente tem que ficar no banco, independentemente de estar bem atado pelo cinto de segurança, mesmo que o carro esteja percorrendo uma trajetória curva sob grande aceleração lateral. Ou seja, a gente tem que apoiar o pé da embreagem em algum lugar com força suficiente pra comprimir as costas contra o banco.

Óbvio que a gente tem que alcançar todas as marchas sem desencostar o ombro do encosto do banco ou o mais perto disso possível.

Visibilidade não é importante.

Calma, eu explico. Uma vez que a gente tenha absoluto domínio do carro, o que envolve não só estar no pleno comando como também conhecer suas reações e características (um dia falo só disso mas hoje, não), olhar adiante, em volta e para trás passa a ser a única preocupação real. Os olhos veem e o corpo obedece instantaneamente, basicamente porque está bem instalado e com amplo acesso aos comandos do cockpit.

Reforçando, um cara bem sentado num carro consegue virar o volante pouco mais de 180° com uma mão só, consegue apertar a embreagem até o fim se desencostar a bunda ou as costas do banco, consegue apoiar o pé da embreagem em algum lugar (carro bom sempre tem o quarto pedal ou algum lugar decente pra apoiar o pé esquerdo) com força suficiente pra manter a bunda e as costas coladas no banco, consegue apertar os pedais do freio e do acelerador simultaneamente e consegue trocar de marcha rápida e eficientemente.

Carros mais recentes permitem que se regule tudo: altura e inclinação do assento, inclinação do encosto e altura e profundidade do volante.

Existem modos para que se ajuste o cockpit segundo regras de segurança passiva mas a isso não dou muita importância - posição da cabeça em relação ao encosto de cabeça e a um eventual air bag, por exemplo. Importante mesmo é a segurança ativa, que é aquela que realmente depende de quem dirige e não de quem projeta o carro. Daí o sub-título (hífen - eu uso) love hurts. Não falei em conforto, até aqui. Um cockpit corretamente configurado não vai judiar do motorista/piloto em bons carros de rua. Sei do que estou falando porque tenho um Fusca, tive alguns carros de corrida e já guiei alguns carros de fórmula (open wheels, monopostos). Sem falar nos karts, onde a posição de pilotagem interfere muito na distribuição de peso e no desempenho do micro monoposto.

O sujeito do sketch abaixo está corretamente sentado:

Meio alto dentro do carro para o meu gosto, mas vá lá.

Mas qual é afinal o motivo pra gente procurar se instalar bem no cockpit?

Controle. 

Controle é tudo. Mesmo sob o efeito de grande aceleração lateral ou longitudinal, o bom controle até supre alguma deficiência de acerto do carro, uma vez que a gente tenta manter grande parte do corpo em contato firme com o banco pra antever alguma reação. Mais do que ver com os olhos, a gente sente o carro com o corpo todo. Vibrações, transferência de peso, aceleração longitudinal ou lateral, rolling, dive, é o corpo que sente através das costas, da bunda e da parte posterior das coxas, basicamente. O tal do bundômetro calibrado que eu menciono sempre.

Update

Vi num blog famoso esse video do Niko Rosberg comentando sobre o cockpit do seu F1 num blog famoso. Bem interessante e roubável:





3 comentários:

  1. Posição do corpo e o foco do olhar (lugar aonde vc quer levar o carro) são as coisas mais importantes do ato de dirigir, todo o controle e sensibilidade estão envolvidos nestes atos!!

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    1. Considerei a pilotagem de competição. Por isso não dei importância pro foco no olhar, uma vez que o traçado é decorado.

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  2. "Você olha pra onde quer que a moto vá", diz o Tite. Botando isso em prática parei de cair em cavas de erosão.

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